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segunda-feira, 30 de março de 2009

25 Anos a Cantar

Coral Harmonia 25 Anos A Cantar

25 anos não é apenas um número. 25 anos é a imagem de umas bodas de prata! É um retrato amadurecido por muitas vivências. Não um retrato a preto e branco, amarelecido pelo tempo, mas sim um retrato que progressivamente ganhou múltiplas e novas cores. Para mim, este é um momento que reflecte o amplo e profundo grupo de pessoas que em “harmonia” procuram um estado de espírito colectivo que se revela num modo de cantar.
Pensar o Coral Harmonia é pensar nos afectos, na empatia, na cumplicidade, na maturidade e na rebeldia, ao mesmo tempo, na exigência e no rigor. Pensar o Coral Harmonia é afinal evocar Afinições, neologismo que criámos há três anos, por altura da exposição sobre os 22 anos do coral. “Afinidades” e “Afinações”, duas palavras que unidas se complementam, assim como nós todos – naquilo que damos e recebemos, nos ensaios, nos espectáculos, nas alegrias e nas desventuras que vamos partilhando. A verdade é que para todos nós, o Coral Harmonia é uma extensão da nossa família onde fazemos tudo, até mesmo Música!
Se fosse pintor, tingia numa tela um grupo em movimento, repleto de cor, num misto de sorrisos, lágrimas e suor. No meio dessa tela uma seta a indicar um caminho com curvas, montanhas e mar. Como meio de transporte, as nossas vozes!
Como artistas, o nervosismo e a ansiedade estão sempre presentes. Mas hoje, passados estes anos, posso dizer que os nossos nervos por cada actuação se tornaram sinónimo de adrenalina, paixão e cumplicidade com o público. Atrevo-me mesmo a dizer que esta é uma das receitas que está por detrás das bodas dos 25 anos.
Gostava de vos convidar para uma visita guiada à alma Harmonia onde certamente vamos encontrar várias salas entre as quais está o riso de nós próprios, os nossos códigos gestuais para personificarmos um falhanço, um olhar para enaltecer a frase bem cantada ou tantas outras graças que vêm circulando neste grupo ao longo dos anos, passando dos mais “velhos” para os mais “novos” coralistas. Há ainda as salas que guardam as memórias das nossas actuações em catedrais, em auditórios, e até na festa mais popular que nos fez actuar em cima de um tractor agrícola! Há abraços que nunca se esquecem e momentos de forte emoção que marcam definitivamente as nossas vidas. Há muitas histórias, desde as mais engraçadas às mais sérias. E nesta nossa história com 25 anos, e como portugueses que somos, o nosso “Fado” toca-nos particularmente quando lembramos aqueles que já partiram e que, pela sua presença, pelo que deram e criaram, são ainda hoje recordados nos momentos de maior alegria quando falamos do coro.
Se passarmos, por exemplo, uma semana sem ensaios, sentimos que nos falta um pedaço de nós. Os jovens que a dada altura têm de partir para a universidade vêem a sua vida divida entre os projectos profissionais e o prazer de estar no coro, por isso sabemos que anseiam a chegada do fim-de-semana, a possibilidade de reencontrar e ser novamente “Coral”. Os mais velhos, estabelecida a sua vida, destinam, alguns mesmo desde há 25 anos, parte da sua semana aos ensaios, essenciais para aquilo que somos e fazemos. Já nem falo dos fins-de-semana de concertos, dos ensaios-gerais que nos tomam tarde e noites, dos aspectos técnicos que estão por detrás deste grupo e que fazem tanto pela nossa vida coral. Por isso somos família. E é em família que pensamos quando olhamos com esperança para os mais pequenos do Coral Harmonia Juvenil. É neles que perspectivamos o crescimento e a continuidade do Coral Harmonia 25 anos.
É com grande satisfação que afirmo que a idade não marca distâncias ou barreiras na comunicação deste grupo. Antes pelo contrário, realça a nossa necessidade de arrojar novos desafios, novos projectos, onde a barreira da língua ou do estilo de cada geração é facilmente ultrapassado. Nos últimos anos, o tradicional concerto coral tem vindo a ser transfigurado, crescendo e amadurecendo connosco, transformando-se num espectáculo coral, encenado, coreografado e representado, mas sempre com o rigor da qualidade musical. Este novo formato permitiu atrair mais público e também mais coralistas que vão dando continuidade ao trabalho louvável dos cantores menos novos.
Nesta viragem dos 25 anos, estamos a realizar um projecto no Hospital do Litoral Alentejano que nos enche de satisfação. Apresentamos todos os meses pequenos grupos do nosso Coral que cantam pelas enfermarias e salas de espera, interpretando um pouco de tudo desde o cante alentejano, o gospel, o fado, ou até mesmo o repertório sacro. É um projecto que alia o nosso trabalho na música à sensibilidade e à solidariedade por aqueles que estão menos bem.
Mas como já referi, nem tudo é alegria e o trabalho nem sempre é fácil de realizar. Actualmente, debatemo-nos com a angústia dos nossos apoios serem insuficientes face ao trabalho que apresentamos. Os grande mecenas do coro são hoje os próprios coralistas que financiam grande parte das nossas deslocações, mas não sei até quando. Neste momento, rejeitamos cinquenta por cento dos convites que nos são dirigidos por falta de condições financeiras. E as recordações, a paixão e o esforço por si só não bastam para nos manter activos.
Nestes 25 anos gostaria de pedir um presente muito especial: um vale de crédito cultural para podermos continuar a juntar trinta e tal pessoas todas as semanas, várias vezes, em prol de uma terra, de uma região e, afinal, de um país.
Parabéns Coral Harmonia!

O Maestro do Coral Harmonia,
Fernando Malão

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